Rosaria Rosario Moreira: empreender para incluir — a força do microcrédito na transformação de mulheres e comunidades”

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Rosaria Rosario Moreira: empreender para incluir — a força do microcrédito na transformação de mulheres e comunidades”

Na província da Zambézia, onde o acesso ao crédito ainda representa um obstáculo para muitos empreendedores, a SAZOE Microcrédito tem se afirmado como uma ponte entre o potencial local e as oportunidades de desenvolvimento. Nesta entrevista inspiradora, a Sra. Rosaria Rosario Moreira, fundadora e proprietária da SAZOE, partilha sua trajectória, motivações e os impactos da sua actuação na comunidade.

Com uma visão voltada para a inclusão financeira, o empoderamento de mulheres e jovens, e a promoção de negócios sustentáveis, Rosária revela como o microcrédito pode ser uma ferramenta poderosa de transformação social. A conversa também destaca os desafios enfrentados, os resultados alcançados e os sonhos que continuam a guiar a sua missão empreendedora.

  1.  Como e por que decidiu trabalhar com microcrédito?

Respondendo à questão de forma mais honesta possível, posso dizer que decidi trabalhar com microcrédito com a motivação de ter um negócio mais estruturado e desenvolvido que para além de escalar também beneficiaria um número maior de pessoas na geração de postos de rendimento e de trabalho. Eu já fazia negócios em outras áreas, porém sempre sonhei em fazer um negócio que tivesse maior potencial de escala.

  • Quais eram os principais desafios enfrentados pela comunidade antes da sua intervenção?

Antes da minha intervenção, a minha comunidade enfrentava muitas barreiras no acesso a serviços financeiros tradicionais, principalmente os comerciantes informais. A maioria deles não tinham acesso a créditos para impulsionar ou expandir os seus negócios, as famílias vulneráveis não tinham acesso a recursos para cobrir emergências, a maior parte da população recorria aos vulgos agiotas ou esquemas informais com juros abusivos. Com essas barreiras, novos negócios não surgiam,  o que reduzia as oportunidades de emprego e renda e isso influenciava negativamente a economia local e a capacidade de compra.

  • Como é estruturado o apoio financeiro e técnico oferecido aos beneficiários?

A nossa organização estruturou o apoio financeiro e técnico da seguinte forma:

No apoio financeiro, primeiro fazemos a análise do crédito com base no potencial do negócio, onde avaliamos a capacidade de geração de renda, o histórico bancário que pode ser por extrato de contas de carteiras digitais como o emola e o m-pesa e visitas no local do negócio e o domicílio e verificamos a existência de garantias financeiras.

A seguir, a concessão do crédito, fazemos a avaliação dos montantes adaptados ao perfil do cliente (crédito progressivo) condições flexíveis de juros, prazos e garantias alternativas e opções de crédito individual, e crédito em grupo (crédito solidário).

Na terceira fase, acompanhamento Pos-consecção, através de visitas regulares para o monitoramento do uso do crédito e restruturação ou refinanciamento se necessário para evitar a inadimplência.    

No apoio técnico, fazemos a capacitação em áreas de educação financeira: gestão do dinheiro, poupança e orçamento, capacitação em gestão de negócios e aconselhamentos adaptado ao tipo de actividade.

  • Pode partilhar um exemplo marcante de transformação que acompanhou de perto?

A nossa organização tem várias histórias de transformação, dentre elas vou aqui deixar ficar a história do cliente Alfredo Ricardo Gemusse

O senhor Alfredo Ricardo Gemusse de 49 anos de idade, casado, residente no bairro sampene, cidade de Quelimane dedica-se no transporte de passageiro Quelimane -Gurué.           

Antes da SAZOE Microcrédito.

O senhor Alfredo Ricardo Gemusse, para sustentar a sua família, fazia a actividade de chapa Quelimane -Gurué, o rendimento era instável para cobrir com suas despesas e ele não tinha acesso ao crédito bancário tradicional.

Em 2022, o cliente Alfredo Gemusse, conheceu a SAZOE Microcrédito, e solicitou um financiamento de 30. 000 para a manutenção da sua viatura, que ele usa como fonte se sustento. E pagou sem nenhum problema. Meses depois solicitou um empréstimo de 50.000 meticais com prazo flexível e com taxa acessível, com esse valor ele adicionou as suas poupanças que na época não eram muito relevantes e deu entrada no pagamento da primeira prestação de 70.000 mil em uma viatura de segunda mão minibus cor cinzenta, tendo assim acesso a mesma.

Com as duas viaturas em funcionamento, os lucros aumentaram, lhe possibilitando assim pagar o resto do valor da segunda viatura e as prestações do crédito na instituição. No final de 1 ano já havia terminado as duas obrigações.

Apos o cliente ter recebido vários treinamentos em matérias de gestão de negócios e com o surgimento do fundo de resiliência em dezembro de 2024, o sr. Ricardo Gemusse se sentiu motivado em diversificar o negócio para a criação e venda de frangos, negócio este que foi gerido pela esposa, a sra. Marcelina Marcelino Francisco. Solicitou um novo crédito no montante de 50.000, que aplicou na abertura de um aviário. No final de 6 meses ele concluio as suas obrigações, o negócio cresceu, que teve de contratar mais dois funcionários para se dedicar a venda dos frangos, um motorista e um ajudante de cargas para a segunda viatura.  

Tendo assim no final de vários ciclos de crédito, uma viatura e um aviário. Com isso o senhor Gemusse já pode cobrir as suas despesas e fazer uma poupança. 

  • Que critérios utiliza para seleccionar os empreendedores ou projectos a apoiar?

Em um dos treinamentos que a organização teve através da AMOMIF aprendemos que para uma instituição de microcrédito, selecionar o cliente ideal é essencial para garantir tanto o impacto social quanto a sustentabilidade financeira. Então, aliado a isso a SAZOE tem como critérios de seleção os seguintes: avaliar o perfil do empreendedor, avaliar a capacidade de pagamento, olhar para a reputação, moralidade e referências de vizinhos, líderes comunitários e grupos de poupança, a inclusão social, isto e, se pertence a um grupo socialmente excluído e mostrar sinais de organização financeira básica.

  • Quais foram os principais resultados alcançados nos últimos anos?

Nos últimos anos a instituição tende a crescer. Tanto em termos financeiros assim como em termos de recursos humanos e materiais. A título de exemplo, no primeiro semestre de 2025, a instituição cresceu em aproximadamente 40%. Tivemos alguns avanços tecnológicos com aquisição de novos sistemas de gestão e retenção, oque nos possibilitou conquistar um novo nicho do mercado de crédito, impulsionando assim a nossa carteira de clientes para além de ser preferência no mercado por oferecermos o crédito com juros atrativos como o redito resiliente.

  • De que forma o microcrédito tem transformado a vida das mulheres e jovens na região?

O microcrédito tem desempenhado um papel fundamental na transformação da vida de mulheres e jovens, especialmente aqui na Zambézia onde se regista altos níveis de desemprego, pobreza, exclusão social e financeira. Essa transformação dá-se através do empoderamento económico das mulheres, inclusão dos jovens no mercado económico e transformações sociais visíveis. E não só, como partindo do princípio de que ao financiar uma mulher, uma jovem, uma mãe, damos a elas a oportunidades de, com o negócio, pagar o sustento e a escola dos filhos, isto é, investir no futuro e na educação de uma nova geração. De forma resumida podemos dizer, “a Sazoe Microcrédito entende que: Financiar uma mulher é dar esperança a uma família e é também apoiar os esforços do governo nas políticas do empoderamento feminino”.

  • Como a comunidade vê o trabalho da sua instituição hoje?

Actualmente a comunidade vê o nosso trabalho como uma janela de esperança na realização dos seus sonhos, as mulheres principalmente, já se sentem acolhidas pela iniciativa, agora elas sentem que podem sonhar em aumentar o negócio, comprar mais mercadorias e realizar mais sonhos.  

  • Que tipo de acompanhamento é feito após o financiamento?

Apos o financiamento dos clientes, e essencial realizar um acompanhamento continuo para garantir a sustentabilidade e o bom uso do financiamento. Esse acompanhamento e feito através de visitas regulares ao local do negócio para avaliar como esta sendo aplicado o fundo, orientação na gestão financeira, para ajudar o cliente a manter um fluxo de caixa saudável, apoio na comercialização através de estratégias de venda, analise do impacto na qualidade de vida, monitoramento do rendimento e dos reembolsos. E feedback do cliente em relação a sua satisfação e sugestões de melhorias.

  1. Quais são os sonhos ou metas para os próximos anos em relação ao desenvolvimento local?

Para os próximos anos, os sonhos são de crescer cada vez mais, poder impactar maior número de pessoas com a nossa actividade. E de forma mais concreta impactar 2 vezes mais o número actual de pessoas que estamos impactando actualmente a partir de mobilização de fundos através de parceiros estratégicos.

  1. Há quanto tempo é membro da AMOMIF e o que a motivou a juntar-se à associação?

Somos uma instituição membro da AMOMIF a mais de (2) dois anos, e nesse período, poucas eram as informações sobre como liderar uma instituição de microcrédito, e por felizmente ser uma área democratizada, qualquer um, independentemente da área de formação poderia e ainda pode obter a licença de exploração. Oque foi o meu caso, licenciada em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Comunitário, sem conhecimento da área financeira e de créditos, me senti na necessidade de ir atrás de conhecimento. Eu precisava estar perto de quem conhece, de quem vive o dia a dia essa realidade, de quem tem experiências e foi assim que pesquisei na internet sobre associações de operadores de microcrédito e conheci a AMOMIF.

  1. Que tipo de apoio técnico ou institucional já recebeu da AMOMIF?

Através da filiação na associação a SAZOE microcrédito receberam vários tipos de apoio técnico e institucional que permitiram algumas reformas, tais como:

  • Capacitações continuas em diversas áreas dentre as quais Gestão de Crédito para IMFs, Analise e Gestão de Risco para IMFs, Plano de Negócios e Modelagem Financeira, Marketing de produtos nas IMFs.
  • Acesso a redes ou oportunidades de fundos de financiamentos como por exemplo o FUNDO DE RESILIENCIA.
  • Apoio na implementação de sistemas de gestão de crédito para gestão e monitoramento.  
  • Como a AMOMIF tem contribuído para o seu crescimento profissional ou da sua organização?

Tem contribuído bastante, na verdade eu não sei oque seria da nossa organização sem o contributo da AMOMIF, posso dizer que ela fortaleceu muito a nossa capacidade de atuação, ampliou o nosso impacto social e financeiro na vida dos nossos clientes. E as principais contribuições são dentre elas, a melhoria na nossa gestão interna, contrinuio para a profissionalização da nossa equipe, contribuio na padronização dos nossos processos internos, ajudou-nos na criação de productos financeiros mais adequados, contribuio na redução de riscos e inadimplencia, contribuio no fortalecimento institucional e sustentabilidade. Em resumo, dizer que seremos eternamente gratos pelo apoio e contributo que a associação AMOMIF teve para com a nossa organização. 

  1. Existem iniciativas conjuntas com outros membros da AMOMIF que queira destacar?

Por enquanto não, porém, estaria aberta a qualquer parceria se necessário, por entender que existem desafios tanto na aquisição de fundos assim como no know-how para atender as demandas.

  1. Que papel acha que a AMOMIF pode desempenhar no futuro do microcrédito e do empoderamento das mulheres e jovens na Zambézia?

Acredito que a AMOMIF pode desempenhar um papel crucial no futuro do microcrédito e empoderamento das mulheres e jovens aqui na Zambézia.  Até porque eu seria um dos exemplos disto. E como eu sempre digo, quanto maior a representatividade aqui na Zambézia, maior a descentralização das oportunidades. E este papel pode se concretizar através de programas de formação em gestão financeira, empreendedorismo e habilidades técnicas para mulheres e jovens, também pode ajudar criando influencia em políticas publicas que favoreçam o microcrédito e a inclusão financeira de mulheres e jovens, no fomento de programas com enfoque no género e juventude. Para além de que deve desempenhar um papel de líder na divulgação de boas práticas  e mobilizador de fundos externos para o aumento das capacidades institucionais e fundos para financiamentos.

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